O artista plástico Gil Mário (na foto de Ribeiro Rvd, com Ligia Motta),
que completa 45 anos de artes visuais, expôs "Florestabilidade" na
Galeria Jenner Augusto, em Aracaju, Sergipe, entre maio e junho de 2014, com
curadoria de Lígia Motta.
No programa distribuído no vernissage consta o artigo "A Arte do
Sertão", assinado por Dimas Oliveira e Thatiana Miloso, originalmente
publicado na revista "Estilo Damha", edição de agosto e setembro de
2013. A revista é editada em São Paulo e de circulação nacional - 20 mil
exemplares auditados - dirigida.
A Arte do Sertão
Feira de Santana se rende às linhas e cores de Gil Mário, artista
plástico que levou sua arte às ruas da cidade Caminhar pelas ruas de Feira de
Santana (BA) pode revelar surpresas que vão além das percepções habituais
provocadas pelos grandes centros urbanos. A cidade, que é a maior do interior
nordestino em população, tem tudo o que se espera de um município com pouco
mais de meio milhão de habitantes: arranha-céus, vida noturna agitada,
universidades importantes, indústrias e comércio pujante. Mas a "Princesa
do Sertão", como é carinhosamente chamada por seus moradores, também
surpreende por sua vocação para a arte, estampada em cores, linhas e formas que
embelezam a paisagem do semiárido baiano. Um dos que contribuem para esse ar
vanguardista de Feira de Santana é Gil Mário, artista plástico nascido em
Salvador que há mais de 50 anos se dedica à profissão. Suas telas e esculturas
carregadas de manifestações surrealistas, e famosas por expressarem sua paixão
pela flora e fauna do semiárido nordestino, tornaram-se objetos de desejo dos
cidadãos feirenses aficionados por arte. Mas sua obra não se restringiu às
barreiras físicas comuns da produção artística. Presença garantida em casas,
prédios e galerias da cidade, o trabalho de Gil atingiu uma nova dimensão ao
extrapolar os espaços internos para ganhar as ruas da cidade. Os que circulam
pela Avenida Presidente Dutra sabem bem o que isso significa. Sobre a rotatória
da Praça Jackson do Amaury, na região central de Feira de Santana, um enorme
monumento projetado pelo artista confere um pós-modernismo à paisagem,
mesclando o design futurista da estrutura metálica à opulência do concreto
armado. Representando, respectivamente, a carroceria e a cabine de um caminhão,
as duas peças se integram para formar o "Monumento ao Caminhoneiro",
obra construída em 2007 para homenagear os milhares de motoristas que cruzam as
estradas baianas levando o progresso para o Estado e para o Brasil. A poucos
quilômetros dali, novamente a paisagem semiárida é ofuscada pela arte. Desta
vez, uma escultura em homenagem à poetisa Georgina Erismann salta aos olhos de
quem circula pela Avenida João Durval Carneiro. Na forma de duas asas alçando
voo, a obra expressa a liberdade criativa da célebre poetisa feirense, no
momento da criação do hino de Feira de Santana. A autoria da obra? Gil Mário,
que prefere atribuir à cidade o mérito pela devoção à arte: "Feira de
Santana ainda tem rasgos de memória e retribui aos seus benfeitores, dando exemplo
para as futuras gerações". Palavras humildes, para quem tem talento de
sobra.
Por Dimas Oliveira, jornalista e crítico de arte
Publicado no facebook em 03/05/2021
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