domingo, 5 de julho de 2020

As guerras, a cor, e “minha não violência”

 
 O globo terrestre, uma das cenas mais icônicas do cinema político. O grande ditador


Em tempo de pandemia, os livros, a televisão e a cama são companhias constantes. Com isto, o documentário comemorativo dos 74 anos do “Dia D”, a operação Overlord em1944 que mudou os rumos da 2ª Grande Guerra Mundial, possibilitando a invasão da Normandia na França, focalizou a miséria sofrida pelos jovens soldados causando mais de 10.400 mortes nos aliados em meio a erros e enganos estratégicos. Mesmo assim, um pontapé inicial para a derrota de Hitler liderando a Alemanha Nazista.
As batalhas na África do Norte Francesa causaram mais de 10.000 mortes, números repetidos e banalizados por alguns analistas da guerra. Se não bastasse a existência dos campos de concentração e extermínios dos Nazistas, matando milhões de civis e prisioneiros.
Adolfo Hitler promoveu o maior leque de racismo de todos os tempos: de judeus, ciganos, negros, homossexuais, deficientes físicos, comunistas e tudo mais que não fosse raça ariana. Por isso, “os arianos tinham o direito de escravizar as raças inferiores”.
Suponho que os piores anos da guerra foram entre 1941 e 1942 com 43.381 civis mortos e 50.856 feridos onde os submarinos de Herr Hitler varriam os Oceanos Pacifico e Atlântico.  Em Cingapura, 85 mil homens foram aprisionados e em Tobruk mais de 33 mil aliados foram presos. No inicio uma derrota atrás da outra.
Em abril de 1945, Hitler recebeu a noticia da morte de Mussolini. O momento era lugubremente apropriado. No dia 30,“ Hitler almoçou calmamente com sua gente e, ao final da refeição, trocou aperto de mão com os presentes e se recolheu ao seu quarto.  As 15h30mim ouviu-se um tiro e os membros de sua equipe pessoal entraram no quarto, encontrando-o caído no sofá com um revolve ao lado. Matara-se com um tiro na boca.”  -Memórias da Segunda Guerra Mundial de Winston Churchill, (Vencedor do Prêmio Nobel de Literatura).                          
Não só Hitler promoveu genocídios, flagelo humano, sofrimento, guerras e destruição em massa principalmente de jovens e suas famílias: Mitos sem propósitos humanistas, em busca da gloria pessoal como Napoleão Bonaparte, César Augusto, Mussoline, Alexandre, e os mais sanguinários, Josef Stalin, Mao Zedong, Gengis Khan, Hirohito, Leopoldo II etc. (AH aventuras na história, atrocidades e crimes).  Não analiso países, mais os líderes criando ficções e envolvendo coletivos humanos para aventuras desastrosas.  
Exemplifiquei neste primeiro momento a miséria das guerras propiciando o deslocamento de 80 milhões de refugiados pelo globo, fugindo da escuridão de seus países de origem. Agora falo sobre grandes heróis: homens que minimizaram o ódio do racismo branco ou nego, religioso ou escravagista contra o apartheid na África do Sul ou a liberdade da Índia.   
“O filho de José e de Maria nasceu como todos os filhos dos homens. Chorou porque o fizeram chorar, e chorará por esse mesmo e único motivo”, disse José Saramago.
As raras atitudes humanas de “Minha não violência” só conheço em Gandhi, lutando pela independência da Índia, do racismo da cor e das castas.   Admirava Buda devido ao consequente amor comprovado por todo tipo de vida e não meramente para com os seres humanos. Segundo Jad Adams em “Ambição Nua.” Gandhi traduziu Satyagraha como “firmeza na verdade”, seu lema politico e não “resistência passiva”, como muitos divulgam.
Dentre estes, não podemos deixar de citar a saga de Nélson Mandela. Condenado a pena de morte, depois revogado para 27 anos de prisão e libertado em 1990. Mandela: “Dediquei minha vida à luta do povo africano. Lutei contra a dominação branca e a dominação negra. Meu ideal é o de uma sociedade livre e democrática em que todas as pessoas vivam em harmonia com iguais oportunidades”. Ele conseguiu algum sucesso na África do Sul, mas o resto do mundo continua uma cocha de retalhos com todas as cores se digladiando.
Os homens sempre viveram na era da pós-verdade. “O Homo sapiens é uma espécie da pós-verdade, cujo poder depende de criar ficções nelas. Desde a Idade da Pedra, mitos que se autorreforçavam serviram para unir coletivos humanos. Realmente o Homo sapiens conquistou esse planeta graças, acima de tudo, à capacidade exclusiva dos humanos de criar e disseminar ficções. Somos os únicos mamíferos capazes de cooperar com vários estranhos porque somente nós somos capazes de inventar narrativas ficcionais, espalhá-las e convencer milhões de outros a acreditar nelas.”-Yuval Noah Harari.
Sempre que políticos começarem a falar em termos místicos, tenha cuidado. Podem estar tentando disfarçar e desculpar sofrimento real, escondendo-o sob palavras grandes e incompreensíveis. Em especial, tenha cuidado com as seguintes quatro palavras, sacrifício, eternidade, pureza, redenção. Se ouvir qualquer uma delas, faça soar o alarme. E se caso você vive num país cujo líder diz rotineiramente coisas como “Seu sacrifício vai redimir a pureza de nossa nação eterna”- saiba que você está em grandes apuros.         
                                                    
 Gil Mário
 Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Feira de Santana / 2020