domingo, 21 de fevereiro de 2010

Gil Mário "Nossa Senhora Padroeira de Feira de Santana ", ,100 x100 cm, AST,2010


Sobre as Festas e as Feiras
“O Tejo não é maior que o rio de minha aldeia” Fernando Pessoa

A obra artística de Gil Mário tem seus pilares construtivos na tradição da pintura ocidental como técnica de excelência no reino da visualidade e de seus intrínsecos compromissos com as manifestações da cultura popular de sua região de origem.

Nesse sentido, ele é responsável pela tradição do ofício do pintor, valorizando linhas, texturas, composições, áreas de luz e de sombra, investindo na beleza e nos mistérios das telas, tintas e pincéis. Percebe-se, em cada trabalho do artista o requinte, com as cores, com o equilíbrio das formas, com os planos distribuídos através de uma espécie de essência do traço, da gráfica que norteia seu trabalho.

Por outro lado, ele investe vigorosamente na temática nordestina, fazendo de sua pintura uma espécie de documentação livre e poética de algumas manifestações folclóricas da região que embasam o caráter sensível do povo brasileiro. Gil Mário trabalha, com precisão e sensibilidade, esse material que lhe é tão caro. Sua pintura, modestamente, coloca-se a serviço de seu povo, de suas crenças, seus mitos, suas lendas. E é esse tom respeitoso, encantado pelas cores das festas populares que permite ao artista superar o retrato e criar uma outra realidade poética, onde a harmonia e a clareza gráfica convivem com a vibração cromática. Natural de Feira de Santana, cidade cujo nome já harmoniza a troca, a festa e a religiosidade, o artista mantém na sua pintura a fidelidade com a sua cidade. Suas pinturas são ricas, vibrantes, cheias de cor e de movimento, como se estivessem a dançar permanentemente, encantando o olhar e mantendo acesa a chama da força e da beleza da pintura. Fiel aos espaços cubistas, através de cortes e secções que alteram as angulações e os cortes da cena, Gil Mário utiliza-se de certos recursos quase cinematográficos buscando com isso acentuar o ritmo e o movimento que caracterizam a sua temática.

O universo do artista é, antes de tudo, a poética, a valorização da arte como instrumento de congraçamento e de festa. Sem se ater a modismos, ele segue o seu rumo, a sua sina. O artista deve ir onde o povo está. "E foi assim, e assim será". E la Nave va...

Marcus de Lontra Costa
Critico de Arte-Rio de Janeiro –Agosto 2001

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Áureo Filho na "Serpentina"

O "Blog Demais" postou em 11 de fevereiro e o "Blog Santanópolis replicou no dia 14:
"Na revista "Serpentina", nº 1, de abril de 1941, editada por Pedro Matos, a foto legenda:"É com máxima satisfação que estampamos em nossas páginas o clichê do nosso amigo Dr. Áureo Filho, feirense ilustre, moço de uma cultura pouco comum, diretor do Ginásio Santanópolis, obra que muito tem concorrido para o engrandecimento desta terra que lhe serviu de berço e quiçá do Brasil”.

Referência  à Àureo de Oliveira Filho (1902-1976) por tratar-se do avó materno de Gil Mário

Áureo Filho teve sua formação acadêmica em Odontologia e foi deputado estadual por quatro legislaturas, sempre objetivando a melhoria da educação brasileira. Fundador do grande Colégio Santanópolis (primeiro do interior do estado) estimulava a pratica da cidadania, o desenvolvimento da ciência e como admirável orador, transformou essa qualidade em estimulo aos que se profissionalizavam a partir do Santanópolis: Governadores, Ministros de Estado, Secretários de Estado, Desembargadores, Conselheiros de Tribunais, Deputados, Prefeitos, Profissionais Liberais, Comerciantes, e Industriais.
“(...) Mais, não foi só no campo educacional que Áureo atuou. Como bom feirense, lutou, em várias oportunidades, pelo desenvolvimento da cidade: na batalha pela rede elétrica de Bananeiras; Paulo Afonso; pela água encanada; pela criação do Aeroclube, pela instalação do Matadouro Frigorífico, pela criação do Rotary Clube, pelo asfaltamento e duplicação da rodovia Feira Salvador, pela melhoria da rede telefônica a criação do Observatório Antares, pela criação da Universidade (UEFS) e por tantos outros empreendimentos pelo desenvolvimento de Feira de Santana.
Falar em algo que pudesse beneficiar sua cidade tinha em Áureo um grande aliado. A sua última batalha foi pela criação da Universidade de Feira ao lado de Fernando Pinto, Geraldo Leite, Wilson Falcão e Hugo Navarro através da  Assembléia Legislativa do Estado da Bahia e do Jornal Folha do Norte, seus grandes companheiros de ideal. Viu finalmente concretizado o seu grande sonho, na compreensão, na inteligência e no espírito público (...)". Prof. Joselito Falcão Amorim


Liderando a educação de Feira


Edivaldo M. Boaventura
Educado, escritor, presidente da Academia de Letras da Bahia.
Em linha direta, gerações de professores foram responsáveis pelo crescimento da educação em Feira de Santana. Certamente que muito favoreceu a proximidade de Salvador, que concentrava não somente quase toda a educação superior como também o ensino médio. O posicionamento de Feira em relação a Salvador é parecido com o de Campinas e a cidade de São Paulo. Haja vista o número de professores que ensinam, concomitantemente, na capital soteropolitana e na cidade princesa.
Sucessivas iniciativas conduziram à criação da universidade. Destacam-se a Escola Normal, o Colégio Santanópolis e a Faculdade de Formação de Professores. Na década de 30, fixa-se a liderança do professor Áureo de Oliveira Filho, na educação secundária. O pioneirismo do Colégio Santanópolis educou a juventude de Feira e atraiu jovens da região e de toda a Bahia. Se o ensino superior demorou a se interiorizar, começando a partir dos anos 60, por sua vez, a então educação secundária, ginásios e colégios, progrediu muito lentamente. O Santanópolis de Feira, o Colégio Taylor Egídio de Jaguaquara, o Ginásio Municipal de Ilhéus e o Clemente Caldas de Nazaré das Farinhas foram, pontualmente, os estabelecimentos pioneiros do ensino secundário no interior da Bahia.
O ensino médio público se concentrou em Salvador. De 1836, quando se criou o Liceu Provincial, até 1947, com o surgimento dos ginásios de bairro, contávamos apenas com um único colégio secundário público, o Colégio Central, além das escolas normais.
Antes do Santanópolis, o governo Góes Calmon instituiu a Escola Normal, em Feira de Santana. Contribuição importante para a formação de professores primários. Era prefeito Arnold Silva. A dissertação "Mestras do Sertão", de Antônio Roberto Seixas Cruz (Uefs), demonstra o desempenho profissional das primeiras normalistas.
Todavia, bem antes da Escola Normal e do Santanópolis, tivemos as escolas públicas de primeiras letras e do fundamental, no final do século XIX e início do XX, demonstração da política educacional da República positivista.
A imponência dos prédios escolares, como o Grupo Escolar J.J. Seabra, onde hoje funciona o Centro Universitário de Cultura e Arte (Cuca), atesta a importância que foi dada à educação primária da classe média, pela administração municipal, do mesmo modo os edifícios das escolas Maria Quitéria e João Florêncio Gomes.
O Colégio Santanópolis elevou o nível intelectual da cidade e quebrou a monotonia urbana com a presença agitada e irrequieta dos ginasianos. Para tanto, Áureo Filho congregou médicos e advogados, a elite profissional.
Com a última reforma de Capanema, passou de ginásio a colégio. Inovou no ensino e estimulou a cultura municipal de diversos modos.
Poucos fizeram tanto pela educação de Feira como o professor Áureo Filho, estendendo a sua luta pelo ensino onde estivesse, em nossa Feira, em Salvador, na Assembléia Legislativa da Bahia, na presidência do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino e, principalmente, na criação da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs).
Uma outra geração de professores se manifesta com a criação da Faculdade de Formação de Professores, a partir de 1968, com cursos de Letras, Estudos Sociais e Ciências.
Destaca-se a bióloga Marinita de Oliveira Menezes, filha do professor Áureo, coordenadora do primeiro Curso de Ciências fora da capital.
Formada em História Natural, especializou-se em Zoologia Animal Comparada, instalou moderno e completo Laboratório de Ciências, adquirido em uma fundação especializada em equipamentos para o ensino científico apoiada pela Unesco. Dentre os alunos formados na primeira turma, sobressaiu José Raimundo de Azevedo, orador da turma, ex-prefeito de Feira e atual secretário de Educação.
A etapa seguinte foi o da universidade, quando surgem novas lideranças, como a do professor Gil Mário de Oliveira Menezes, neto do professor Áureo, duplamente graduado em Educação Física e em Artes Plásticas. É a terceira geração da família consagrada à educação e à cultura de Feira, cada vez mais enriquecida com as suas obras de arte, especialmente, os monumentos ao Caminhoneiro e a Georgina Erismann.
Publicado no Jornal A Tarde de 03/09/2010








Monumento ao Caminhoneiro


Em homenagem aos profissionais do volante que contribuem decisivamente para o progresso e o desenvolvimento de Feira de Santana, o Monumento ao Caminhoneiro, construído pelo Governo Municipal na Praça Jackson do Amaury, foi inaugurado pelo prefeito José Ronaldo de Carvalho em 15 de setembro de 2007.
O equipamento, construído com recursos próprios do Município, é o maior dos monumentos já construídos no interior do Norte/Nordeste do país. Possui estrutura mista, metálica e em concreto armado, transpassando a Avenida Presidente Dutra, sobre a rotatória da Praça Jackson do Amaury. De arquitetura abstrata bastante moderna, criada pelo artista plástico feirense Gil Mário, remete à idéia da cabine de um caminhão e sua carroceria atravessando a pista...
Por Dimas Oliveira/jornalista, Feira de Santana, 2007

Gil Mário,"O Minotauro de Pablo Picasso", AST, 100x100 cm

domingo, 7 de fevereiro de 2010

VIAGEM MÁGICA PELAS CORES


Um dos mais importantes artistas plásticos de Feira de Santana e da Bahia na atualidade, Gil Mário de Oliveira Menezes apresenta, no Museu de Arte Contemporânea, uma viagem mágica pelo mundo das cores, que se justapõem em formas, tons e sugestões, compondo uma harmoniosa poesia, que encanta e seduz. A exposição no MAC, que foi estruturado especialmente para receber os trabalhos do artista, vai ocupar três espaços distintos, cada um explorando uma temática ou uma fase da sua trajetória.
Na primeira sala, Gil apresenta vinte telas que fazem uma retrospectiva da sua premiada carreira, mostrando a evolução do artista que trabalha as cores com maestria, sugerindo sutilmente incursões surrealistas. Os tons suaves dos primeiros anos e as formas que vão ganhando consistência com o tempo e amadurecimento do artista são os destaques.
Na segunda sala, com emoção e sensibilidade, Gil descobre a riqueza, a beleza e a dramaticidade do folclore baiano. São também vinte telas com detalhes estéticos da cultura popular, trabalhada cuidadosamente, nas figuras do vaqueiro e outros personagens típicos, dos folguedos, como bumba-meu-boi, terno de reis, reisados, a Festa de Santana, onde o sagrado, o profano e o ingênuo se unem e interagem. Também está presente o universo lúdico das brincadeiras, o pião rodopiando e a pipa flanando solta pelos ares.
Na terceira sala, Gil expõe a fase atual, brindando o público com intencionais imprecisões formais, com jogo de cores, sugerindo sensações e formas a depender da leitura de cada um. A natureza é a sua fonte de inspiração, em toda a sua explosão de vida, fertilidade e exuberância. "Pinto a vida", costuma afirmar o artista. E a vida está presente, em nuances sutis, em tons que oram se contrapõem, ora se harmonizam e se diluem, em formas e cores.
A exposição de Gil Mário é mais um exemplo da vontade política da Prefeitura de Feira de Santana, através da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer, em estimular a arte em suas diversas linguagens, porque entende que cultura é elemento de identidade de um povo e valorização da cidadania.
José Ronaldo de Carvalho/ Feira de Santana, 2002

O ELOGIO DA NATUREZA



Gil Mário faz da sua identificação com a natureza a fonte primária da sua arte. Mais do que o conhecimento adquirido na observação, o que passa para a tela em sombras e cores, luz e movimento, tem a ver com amor e devoção, ao motivo que elegeu.
Vê a natureza com seu olhar de pintor, seja nas formas mais explícitas do seu figurativo meio cubista anterior, de inesquecíveis pássaros em vôo, alvos, as asas abertas confundindo-se com lençóis ao vento, postura, movimento, pés, olhos, bicos, tudo exato como na natureza. Ou seja, nessa fase atual em que a síntese prevalece e só a lógica plástica ordena a desconstrução dos elementos. O que se revela claro é ainda o seu sertão, o semi-árido, “a região mais fértil que pode haver e depois que chove, em 15 dias está toda florida e cheia de pássaros fantásticos”.
É como se uma presciência lhe desse o sentido exato dos motivos sem a necessidade de desenhá-los. A relação dialética entre os elementos plásticos: as linhas, as cores magistrais, as formas e os brancos na vegetação onde os pássaros se escondem, é atraente, equilibrada, assegurando a qualidade e preservando o encantamento da natureza nas plantas e pássaros do seu belíssimo semi-árido.

MATILDE MATOS (Salvador,2000)
ABCA - Associação Brasileira de Críticos de Arte
AICA - Associação Internacional de Críticos de Críticos de Arte