terça-feira, 9 de maio de 2023

Comentário da mestra e doutora Celina Scheinowitz  Fato marcante no quadro de Gil Mário Menezes: a nudez do santo, escassez de adornos terrenos que conota a singeleza, simplicidade e transparência da santidade. Uma festa de cores, seu quadro de São Francisco. O fundo da composição é marcado pela tonalidade bordeaux, sendo o conjunto arrumado em três níveis principais, que se desdobram horizontalmente. No primeiro plano, vislumbram-se os pés azuis do santo, em posição central, arrodeados de pétalas verdes e rosa. Certamente o azul liga-se ao céu e à santidade. O segundo plano é marcado pela presença de peixes, em rosa e azul, com toques de bordeaux, e expressando a ligação primordial com Cristo. Acrescentam-se traços que retratam as pernas de São Francisco, com a cor verde separando-as e com folhagens em tonalidades verdes e amarelas, em fundo colorido, à esquerda, e rosa claro tendendo para o branco, num fundo amarelo e laranja, à direita. Esse festival de cores se completa, no plano superior, com a cabeça do santo, figurado como um jovem da modernidade, inclusive com fios de barba e cabelo bem assentado; somam-se o tronco e os braços erguidos, estes com uma parte em tom azul, como o colorido dos pés, e reafirmando o enlevo para os céus e a santidade. O colorido se abranda, à direita, com matizes de lilás e de arroxeado. O quadro é marcado ainda por uma significativa corrente que envolve o alto dos quadris de São Francisco e que cai do lado esquerdo. O pintor aqui certamente não se esquece do aprisionamento dos humanos na terra. Bela profusão de cores e de formas. O todo liga-se provavelmente à santidade e à humanidade.