Lígia Motta e Dona Canô Veloso
Nesta
terça-feira, dia 25, o Brasil recebeu a noticia do falecimento da Comendadeira
Claudionor Veloso – Dona Canô, a mais ilustre moradora da cidade de Santo Amaro
da Purificação, aos 105 anos. Em seguida
recebi um telefonema do “Embaixador” daquelas terras, o jornalista Paulo Norberto,
comunicando que era desejo da família Veloso, despedir-se da matriarca Dona
Canô, devota fiel da Virgem Puríssima da Purificação, no espaço do Museu
Galeria Caetano Veloso.
Neste
momento percebi a importância que o Museu Galeria de Arte representava para a
família Veloso e fiquei orgulhoso de ter participado efetivamente da criação,
inclusive sugerindo o nome já que estava antecipadamente estabelecido: o Solar
do Biju, local totalmente adequado para esta implantação, pela sua vanguarda
política cultural inclusive na luta pela independência da Bahia e do Brasil.
Há
44 anos atrás, no Solar do Biju, funcionou o Bar Caranguejo, onde Caetano
Veloso comemorou seu primeiro sucesso nos grandes festivais da música popular
brasileira, com a canção “Alegria, Alegria”.
Por
descaso, esta Galeria não pode desaparecer, pois se incorporou a grande
história desta cidade de lutas e vitorias. Foi em 1998, a data da sua
inauguração, administrada pelo Centro Universitário de Cultura e Arte, momento da
gestão da professora Yvone Mattos Cerqueira, que elevou o nome do Cuca, acima
de todas as instituições do gênero na cidade. Até no Distrito Federal, em
Brasília, foi noticia a importante exposição da Coleção Inglesa do Cuca,
exposta por empréstimo ao Centro Cultural Banco do Brasil. Infelizmente este
trabalho não sofreu continuidade.
Mas,
o foco desta matéria é a líder de uma comunidade reverenciada por Governadores
de Estado, Ministros e Presidentes da República, que ao passarem pela Bahia,
faziam questão de visitar a matriarca da família Veloso, uma líder inconteste
por não visar cargos ou poder efêmeros por qualquer tipo de pressão. Liderava
pelos benefícios filantrópicos participados com afinco e fé no ser humano. A
busca por cargos públicos e a gloria pelo poder da imposição de vontade pessoal
não eram suas ferramentas de trabalho. Sua liderança era espontânea, alimentada
pela energia das necessidades do povo e de sua cidade.
A
aparente fragilidade física registrada a primeira vista, logo era percebível a
força intelectual de quem sabia das necessidades impostas pela vida aos menos privilegiados,
e sabia como ninguém a importância da liberdade assistida. Com isto, conduziu
ao mundo filhos ilustres como Caetano Veloso, Maria Betânia, entre os demais
Neste
momento presto minhas sinceras homenagens também a cidade de Santo Amaro da
Purificação por ter o privilegio de ser liderado por uma figura impar no
cenário nacional e tenho certeza que todos lá estão agradecidos pelos
ensinamentos de vida legados aos que ficaram.
Publicado no Jornal Folha do Estado, em 29/12/2012