terça-feira, 5 de abril de 2011

Carlo Barbosa em Foco





Foto: Momento histórico, Jorge Amado, Gilberto Gomes e Carlo Barbosa extraído do site de Gilberto Gomes
Foto: Feirense Eduardo Portella, escritor e Professor Emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi Ministro da Educação e um grande mecenas de Carlo Barbosa
                                                                                                                                                     
Foto: "Flagelo de Lucas da Feira", ast, 240 x 150, 1987, do acervo do Museu Regional de Arte
O artista visual Carlo Barbosa (1945-1988), um detentor de extensa produção artística e respeito nacional em virtude de premiações, museus e galerias que participou, além de manter seu atelier no Rio de Janeiro. Quando morava em Feira de Santana era um colega de eventos culturais e sociais com um grupo de amigos como João Sérgio, Mário Tabarel, Eduardo Sampaio do Banco do Brasil, Redondo do Legoté, Léo Boca Preta, Moacir, Pedro Pernoite, Zé Coió e Fernandinho entre muitos outros das décadas de 60 e 70. Os encontros e reuniões no fim da noite na escadaria da prefeitura para bater papo e as boates, Caverna que foi de Modezil e a Espaçonave onde Carlinhos foi o design e idealizador da estrutura interna, segundo Zé Coió, funcionando atrás do restaurante Galo de Ouro e a Banda Trogloditas de Marcelo e Naron Vasconcelos são lembranças inesquecíveis.
Estas referências demonstram o afeto e admiração que tinha pelo cidadão e posteriormente pelo artista Carlo Barbosa quando foi para o Rio de Janeiro e teve o apoio do Ministro da Cultura, o feirense Eduardo Portela filho da professora Diva Portela. Lembro-me que de volta a Feira pintou para mim um macacão o qual abrimos a micareta do Clube de Campo Cajueiro. Este era Carlinhos, irmão de Conceição minha colega na Escola de Belas Artes da UFBA. Dr. Dival Pitombo diretor do Museu Regional de Feira de Santana, dizia com orgulho ter descoberto este talento das artes visuais, um dos poucos na década de 60. Talvez só Raimundo de Oliveira tenha antecedido as suas primeiras exposições.
Recentemente conheci uma irmã dedicada em preservar a memória artística de Carlinhos, Lucy Barbosa que vem desempenhando um belo trabalho à frente da Fundação Carlo Barbosa, inclusive envolvendo vários outros artistas feirenses beneficiados com suas ações.
Fui um dos primeiros a levantar bandeira em favor da obra de Carlinhos em Feira porque entendo que sua obra só é igualada ao grande Raimundo de Oliveira, artistas destacados antes da inauguração do Museu Regional de Arte há 44 anos.
A obra de arte e os artistas visuais notabilizados em Feira têm uma forte ligação com o museu. É a partir de então que surge arte pura, arte pela arte e Carlinhos é precursor desta geração. Com isto, quero dizer da importância do seu legado artístico e seu destaque entre os demais, sua vida termina sendo motivo de pesquisa como tantos outros. A vida e obra se confundem na elucidação dos motivos da criação. Vários exemplos se apresentam: Vincent Van Gogh, Gauguin, Toulouse-Lautrec, o nosso Raimundo de Oliveira (1930 – 1966) merecedor do livro “A Via crucis de Raimundo de Oliveira.”, onde fala da solidão, amargura e sofrimento além das aflições da vida. O escritor Jorge de Sena cita no texto que a “Policia avisou-me por telefone, que fora encontrado o corpo de Raimundo já em decomposição naquele hotel” Hotel São Bento em Salvador. Adiante, elogia dizendo que “foi um santo de casa que fez milagres maravilhosos”. E assim a vida e obra se misturam na busca pelo entendimento pleno. Neste mesmo livro, vários outros escritores se referem com carinho ao artista feirense como Antônio Celestino, Carlos Eduardo da Rocha, Edivaldo Boaventura, Eduardo Portella e Jorge Amado.
Outro exemplo de estudo vinculado à vida do artista é Vicent Van Gogh e o drama que o levou ao suicídio. Quando pintava “Os Girassóis” o mundo já estava escapando lentamente, mas inexoravelmente das mãos em desespero. “Talvez a superfície do quadro agitada, quase maníaca- reflita o estado de espírito do artista, que se aproximava do final trágico de sua vida breve”. Van Gogh terminou sua vida emocionalmente carregado, em 29 de julho de 1890, na cidade francesa de Auvers-sur-Oise.
São estas peculiaridades que muitas vezes estão ligadas diretamente a interpretação de uma obra prima para que o entendimento do tema, das simbologias e das pinceladas sejam justificadas na superfície pela de uma tela.
Dedico esta coluna a vida e obra de Carlinhos para não permitir que más interpretações distorçam minha intenção em valorizar um momento difícil do artista que soube tirar proveito das diversidades e produziu a obra prima do acervo do Museu Regional de Arte “O Flagelo de Lucas da Feira”.
Sinto-me honrado em manter por algum tempo esta obra, sob minha curadoria, como funcionário da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Obra que faço questão de priorizar, destacando o seu valor todas as vezes que leciono para alunos do Projeto “A Escola vai ao Museu” mantido pelo Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA).
Às vezes interpretações distorcidas em uma entrevista, suprimindo os justos elogios, podem causar mal entendimento ao leitor e ainda servir de gancho para outros críticos
por Gil Mário